sábado, 21 de novembro de 2009

ALL: A Largada (da) Lagarta...

Meio-dia.
Final de prova.
O Mestre caminha com seus colegas.
De repente, um brilho no chão.
O reflexo do céu nublado refratando o Sol para todos os lados.
No meio do brilho, outro brilho.
O reflexo da vida caleidoscópica remodelando as cores alvas do Sol desvirtuado.
Um movimento desse brilho, e Isa-rastreadora estaca.
Num estribilho aquarélico, a vida se decompõe em pernas, cabeça, corpo alongado, flexível e elástico...
O estro no trilho maquiavélico, ouvida a confusão de palermas, não pensa, o torso rebuscado, alusível e fantástico.
Demoníaca, afrodisíaca, dionisíaca, manda Apolo para o brejo e mostra a fulgência fulgurante da, pela e na aleatoriedade seletiva.
Acompanha o rumor desfragado, fragosoro, dos óbices incompletos da órbita inconquântica.
Resulta do amortecimento da queda livre pela aliteração do verso subsequente que é a morte.
Insepulta, num tormento alterca o dibre com a alienação inversa ao recipiente dessa sorte.
Metafórica, indissolúvel, abismática, abissal e asmática.
Peixe-luz, em pleno ar atmosférico. Sobe na grama como quem sobe na grama.
E essa é a profundidade da questão: fazer como quem faz, não como quem não faz.
Mente - mente tão profundamente que nem sente o ente que finge que é dor a dor que deveras sente - ou que diz sentir, pela profusão desses hábitos incompletos, incongruentes e o diabo a quatro.
Mente e convence - uma piorra de arco-íris, os arcos luminosos da íris se contraem, dilatam, se entrelaçam, intermeiam a imagem a ser formada na rotina - na rotina diária, repetitiva, do não sei absoluto que a tudo devora.
Fome come. Come a lagarta, come a visão, cosmos e visão, são Cosme e Damião - alitera tudo, em suma, aglutina o mundo sem dúvida.
E faz-se a imagem na mente alternada pela visão e pela fruição, que se intercompletam como quem gosta de mármore.
Mármore duro, frio, latente, veios correndo líquidos pela dureza sólida, pela argumentatividade seletiva coletiva duro como mármore e vem o martelo e se quebra na superfície - porque não é duro o suficiente, foi enfrentar a si próprio, se voltou contra si mesmo.
O Martelo de Mármore duro faz-se pedaços quando se ataca.
Assim como o filósofo latente da sabedoria reprimida que se prende a livros, grupos ou gramscianamente fode-se de várias maneiras.
A Cobra de Mármore percorre as ruas de são paulo, brasília, rio de janeiro, curitiba, new york, tokio e itaperoá. Subterra-se nas alvoradas do suor andarilho, do nepomuceno pianístico, do kierkegaard católico.
E Lacan surge e se desvenda numa nuvem de enigmas que é a própria solução.
Então a lagarta refulge novamente, se traz à tona do pensamento do poeta.
Que de mestre só tem o nome - o mestre inexiste.
Inexiste a águia, inexiste o suor, inexiste a hierarquia angelical Hallelujah, só existe o sono, a memória e a vontade de dormir.
E a lagarta se põe no horizonte - esférica, informal, ardente, explosiva, latente no suor do meio-dia.
Vem a noite, a dança inocente da lua, os pérfidos corpos em suor comungados pelo gélido prazer da liberdade notívaga - e bate a brisa, o sereno, e o gelado se esquenta, torna-se brilho, a Lagarta ressurge outra vez - se põe ao lado dos bailantes, dos vestidos decotados cheirando a suados de tanto se usar, dos quadris encaixados, dos corpos entrelaçados em dança esférica, carnal, inconsequente, alusiva ao patente estado de alegria corpular que crepuscula no fim do milênio da saudade.
E volta a era do gelo na forma da sogra, do sogro, da mãe, Alcebíades inconclus(iv)o amputa Menandro pai das próprias mãos onanistas e sacras automaticamente.
Mas a Fênix volta a voar livremente pelos jardins ensolarados pelo prazer de viver.
E a música termina com uma nota trêmula, linda, profana, extasiante, explosiva de prazer e de dor, de euforia e de desespero, de vida, de morte, de REALIDADE.
Carmina Burana.



Alcebíades:  "Estejam certos: nenhum de vocês conhece este homem verdadeiramente! Vocês veem, talvez, o quanto Sócrates está apaixonado por belos rapazes: não é ele bem como um Sileno?. Mas isto é apenas o invólucro externo, exatamente como naquelas figuras esculpidas de Silenos, portadoras no interno de imagem deífica. Na verdade, não lhe importa em nada alguém ser belo ou rico. Ele considera, antes, estas coisas um nada e a nós mesmos nada; ele se disfarça diante dos homens e jogou seu jogo com os mesmos por toda sua vida... Se alguém percebeu a imagem deífica no interior de Sócrates, isto eu não sei; eu, vi-a uma vez"

domingo, 1 de novembro de 2009

Béééé

- Béééé - disse o cabrito.
O Gafanhoto parou e ficou olhando.
- Que porra é essa, Mestre?
- Isso é um cigarrinho de erva, meu filho. Quando você...
- Não, Mestre, estou falando do cabrito.
- Mas que cabrito, meu Gafanhoto?
- Esse aí que tá parado aí no chão, fazendo bééé.
O Mestre pára e olha.
- Não sei do que você está falando, meu filho - o Mestre dá uma puxada no cigarro.
- É esse negócio com quatro patas aí.
- Béééé - concordou a criatura.
- Oras, meu filho, convenhamos, as suas peraltices já excederam o limite. Não acha que é hora de parar um pouco, deitar e relaxar? Sinto que suas vibrações chísticas estão meio dissonantes, não concorda?
- Sim, Mestre, mas...
- Sem mas nem meio mas. Você está precisando descansar. Aquela Lyza Brown te deixou exausto.
O Gafanhoto não entendeu. "Ahn?", pensou.
- Que Lyza Brown, Mestre?
- Aquela na música do... como era mesmo? Simão e Garfunco. "look around, Lyza Brown, and the sky is a hazy shade of winter...", o que eu acho a coisa mais estapafúrdia. Essas músicas de hoje em dia...
- ...
- E tem mais, você pela meditação noturna inteira saiu resmungando "lyza brown, andes cá, lyza rêizi nanananã". Tem cabrito nesse mato. Aliás, é Lyza Brown ou Lyza Rêizi? Você nem sabe o nome da menina! O que importa para você é atrair inocentes. Repugnante, essa cultura alienadora. Agora só falta virar comunista.
- Béééé - entoou o agora saltitante quadrúpede.
O Gafanhoto olhou o alegre mini-Bambi e tomou uma resolução. Nunca mais ouvir música moderna perto do Mestre. Já não bastasse ele ter confundido Beirut com sanduíche, e tê-lo castigado com dois dias sem música nem comida por misturar a sacra Arte Sublime à mundana Necessidade Corporal. Agora isso.
- Você deve estar usando drogas, Gafanhoto. Já falei para parar com isso. Agora, vamos voltar.
O Gafanhoto, derrotado, obedeceu-lhe cabisbaixo.
- Béééé - fez o quase-bode, seguindo-os aos pulinhos com o cigarrinho do Mestre na boca.


Final alternativo:
O Gafanhoto olhou o alegre mini-Bambi e tomou uma resolução. Enfiou o pontapé no bichinho.
Pegou bem entre o tórax e o abdome, na linha do diafragma, e o cabrito foi arremessado assim: -2x² + 3x - 5.
Como qualquer um com um nível de inteligência admissível pro Narrador Supremo pode aferir, esse polinômio tem raízes imaginárias.
O que significa que o cabritinho se deslocou no eixo "i" por algumas gerações, sofreu algumas guinadas pelas forças etéreas exercidas por apêndices citoplasmáticos dos zéfiros espaço-temporais gerados pelos fragores das ervinhas do Mestre, pelas correntes giratórias dos ascendentes espíritos de Leila Lopes, Dercy, Michael e Olívia, até surgir espontaneamente, meio atordoado em sua consciência do perigo mas plenamente funcional em seu instinto de pastar tranquilamente, no quintal de um jovem garoto que foi tomado de surpresa pela consequência inusitada da equação desferida pelo Gafanhoto.
Como tudo no Universo,
Continua...