sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O Mestre e o Gafanhoto - diálogo introdutório, amostral, edificante.

O Gafanhoto estava numa crise depressiva, reclamando da vida, negativando seu chi, e indo comprar um notebook na internet, sozinho em casa, enquanto poderia estar no parque da cidade pagando as galinhas pegando as gatinhas da festa. Nas palavras desabafantes do Gafanhoto:
-- pô, mermão, eu podia tá pegando as gatinhas lá no parque da cidade, mas não, eu TÔ AQUI COMPRANDO UM NOTEBOOK!!!!!!!!!!
O Mestre (inspirado por Nosso Mércio) contrapôs a esse ponto deplorável de vista sobre a própria existência o argumento de que poderia estar pior - o aluno poderia estar estudando, como o próprio Mestre:
-- puta merda, então eu tou  mais fudido que vc, tou em casa em vez de tar pegano, robano, matano... mas eu vou ganhar um notebook, de graça!! - pausa para reflexão, digitação e capturação - CARALHO EU SOU MUITO NINJA!! Já pinçou um mosquito no ar?? Segunda vez que eu faço isso em duas semanas! Caralho eu mereço esse note pqp!! Vou pro "se vira nos 30!"!!
O Gafanhoto, em uma de suas sábias introspecções, tem uma revelação indizível e a expressa com toda sua força... moral expressiva... com toda sua eloquência!:
-- hahahahahahahahahahahahahahaha... Boto fé!
O Mestre, lisonjeado com a loquacidade de seu criativo discípulo, resolve prolongar a conversa, tentando chegar ao núcleo psicológico da perturbação do pupilo:
-- ahseuhseaie ;P vc entrou só pra encomendar o note mesmo? Oo seus pais não xaropam? (mlk, da primeira vez foi mto escroto. eu tava conversando no MSN, levei a mão pra trás da orelha e quando tirei o mosquito tava lá, esmagado entre meus dedos indicador e médio :O)
O Gafanhoto, sentindo sub/inconscientemente a profundidade da lição vindoura, perpetua a comunicação:
-- é, velho. Eles nem me deram tiros nem nada. Deixaram numa boa. (que massa. Quero aprender a fazer isso.)
O Mestre intui Freud e:
-- asheuiesahuiaesh xD e a surra instituída depois do jantar, ainda vale?
O Gafanhoto comete impávido o ato falho freudiano:
-- Claro!! Uma vez instituída, jamais retirada!
O Mestre, dissimulando sua ação filosófica para a melhor fruição do acontecido, intermeia:
-- ;P (é fácil, constitui-se de dois princípios: primeiro, tenha um mosquito; segundo, seja ninja) ;S o negócio aí é bad, hein?
O Gafanhoto não reage à ardilosa estratégia investigativa do Mestre em inverter a ordem do discurso e prossegue incólume:
-- nem é não. Meus pais são mó de boa. de vez em quando. (se eu arrumar uma katana, posso usá-la pra matar o mosquito?)
O Mestre, dando a volta por cima da intempérie, se rearranja maliciosamente:
-- eu tava zuando ;P tava preparando uma tirada com o Golpe ;D conspiração pais-escola. Tamo fudido. (há um terceiro princípio oculto: saber diferenciar um ninja de um samurai! ;P)
O Gafanhoto, apreendendo de chofre o xis da questão, reconhece:
-- saquei. é, tamu fudido. (não importa qual, eu quero ser o que voa)
O Mestre e o Gafanhoto, a partir desse influxo discipular, assumem um dinamismo psico-dialógico inenarrável, meramente reprodutível:
-- (o superman?)
-- (não, Mestre, o tapete voador)
-- (então, Gafanhoto, sua preocupação são as traças, e não os mosquitos. Para traças, há dois princípios: primeiro, tenha traças; segundo, seja um tapete voador ninja. Você pode usar uma katana voadora se quiser.)
-- (legal. Eu adoro isso)
-- (:D vá em frente, pequeno Gafanhoto. Um dia, crescerás e te tornarás um Grande Tapete Persa Voador Combatente de Traças com Katanas e Super-Homens)
-- (e cavanhaquis. Não se esqueça do cavanhaquis)
Aqui, é possível arriscar o que o Mestre sentia - um orgulho de arguir o pequeno Gafanhoto sobre suas gestativas ideias:
-- (cavanhaquis são uma espécie de quase-barbas esboçadas em croquis?)
-- (na verdade, cavanhaquis é só um jeito legal de falar cavanhaque.)
E o Gafanhoto, após uma tremenda mistura de digressão espaçotemporal, superconsciência metafísica e provavelmente o hálito da Dinamite Pangaláctica e a fumaça do Cachimbo da Paz, ambos do Mestre, expõe ao último sua revelação sobre o Narrador Supremo:
-- (uh. Palavras difíceis: arguir, gestativas e mestre.)
O Mestre, sem entender, achando que foi meramente uma tirada por parte do pupilo, engasga e testa com perfeito sucesso e gritante inconsciência um desvio de assunto:
-- (sim, sim, "mestre"... suas raízes têm origem no útero de Bravathnakam, que pronunciou as sílabas sagradas "mestr", significando "o", e "e", significando "aquele que tudo sabe [mas que não admite não saber enquanto o pequeno gafanhoto continuar em sua tenra crisálida]". A última parte foi omitida dos anais da filosofia Bhramavatskiana {i. e., do descendente humano de Bravathnakam e uma molécula de THC}, por terem considerado que literalmente cagaram essa parte nos anais. Como dá para perceber pela repetição redundante de "o" por "aquele", ou Bravathnakam não tinha parido direito a linguagem, ou Bhramavatski herdou parte significante de seu DNA da molécula de THC, ou TetraHidroCanabinol, mais conhecido como The Holy Cannabis.)
O Gafanhoto, nesse momento de revelação suprema, sumiu, evaporou, desapareceu, escafedeu-se inexplicavelmente.
O Mestre foi continuar seu jogo de xadrez espiritual contra um cigarrinho (sagrado por ser descendente direto em linha fitonarcótica do THC original), o qual levava esporádica e tranquilamente à boca, passada a tempestade da Revolução Revelação.

7 comentários:

  1. "momentos epifânicos", já diria um otimista, na maior de suas interpretações falsas, porém curvadas ao próprio gosto do narrador/banco-do-Banco-Imobilíário (se tivesse vontade prória). Mas tudo não passou de um efeito virtual da mistura ócio-drogas-? que investe em uma dupla narrativa sem conclusões, muito menos explicações e coberta (literalmente) de tracinhos felizes nas palavras infelizes. claro, ignorando a relatividade de conceitos. de novo.

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  2. Palavras do Mestre:
    "Pois a relatividade de conceitos é mero jogo sofístico que objetiva e implica a aceitação da subjetividade deturpante num meio objetivo. A verdadeira relatividade é a de intenções! ;P"

    Palavras do Gafanhoto:
    "Haha!"

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  3. ah, é importante saber que nem ninjas nem samurais voam. a experiência diz que pular do telhado, mesmo sendo ninja não garante um pouso ileso. alías, o problema é esse mesmo: não há pouso...

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  4. Palavras do Mestre:
    "Mas, misinfia, isso depende das qualidades do sujeito. Quanto maior for a THCidade do sujeito, mais fácil será ele se jogar do telhado e errar o chão. Tudo depende da transcedência individual narcossubjetiva Bhramavatskiana."

    Palavras do Gafanhoto:
    "Pára de enrolar e passa logo o pipe, porra!"

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  5. P. S. do Gafanhoto:
    "Ei, peraí, Grandes Tapetes Persas Voadores Combatentes de Traças com Katanas e Super-Homens voam! Quem quer saber de ninjas, samurais e Supermans?"

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  6. Palavras do Mestre:
    "?"

    Tradução do Gafanhoto:
    "Fumou, fi?"

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